São Paulo – As escolhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e os ouvidos moucos do governo com relação a pleitos da agência por mais estrutura e independência de militares e delegados da Polícia Federal (PF) provocou decepção e queixas mesmo entre agentes que resistiram à chamada “Abin paralela” que atuou dentro do órgão durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

Os agentes dizem se sentir, sobretudo, colocados na mesma prateleira, de maneira generalizada, onde se encontram policiais federais ligados a Bolsonaro que hoje são investigados por arapongagem com uso da agência.

Eles rechaçam que este grupo tenha conseguido institucionalizar práticas ilegais, apesar das tentativas, e vêem nas operações da Polícia Federal apenas mais evidência de que policiais federais ligados ao ex-presidente e alguns agentes cooptados por eles criaram um núcleo de arapongagem que passou ao largo de sistemas internos de operações da agência.

Esses agentes, majoritariamente, são de esquerda, e votaram em Lula. São formados em ciências humanas, e passaram em concursos nos anos 1990 e 2000 que privilegiavam conhecimentos gerais e geopolítica. Eles chegaram a conviver com ex-agentes do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI) da Ditadura Militar que acabaram incorporados ao órgão. Relatam que parte desses aposentados beirava ao lunatismo de investigar notícias patentemente falsas, como conspirações internacionais.

Esses agentes do SNI foram ficando cada vez mais escassos, e permaneceram na Abin oficiais e servidores ideologicamente opostos. Tão opostos que geravam desconfiança no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O capitão reformado tinha impressão de que só havia “comunistas” dentro da Abin. Por isso, segundo eles, loteou sua cúpula com nomes como Alexandre Ramagem (PL), alinhados politicamente e leais ao presidente.